A quarta mesa de debates do Controversas trouxe o repórter do Globo e os jornalistas Antero Luiz Martins Cunha e Juliana Dal Piva para falar sobre reportagens que abalaram os anos de chumbo
Por Gustavo Cunha
”O jornalismo é um trabalho calcado fundamentalmente em perseguir pessoas”, sentencia Antero Luiz Martins Cunha que, logo em seguida, emenda, corrigindo-se: “No bom sentido, é claro”. Ao lado dos repórteres Chico Otávio e Juliana Dal Piva, o jornalista relatou como fez uma das reportagens que abalaram a ditadura em 1981, sobre o atentado no Riocentro. O debate aconteceu na quarta mesa do Controversas, na UFF, em 20 de maio.
“É papel do jornalista conferir se as múltiplas versões são compatíveis, duvidando sempre da informação oficial. Mas não podemos nos confundir com um policial”, opinou Antero Luiz, ganhador de um Prêmio Esso com a reportagem publicada à época no Estado de São Paulo. Presente no dia do atentado, o jornalista contou que, por falta de cuidado da perícia, conseguiu recolher a porta do carro onde os militares explodiram a bomba.
Chico Otávio: "Ainda é preciso descobrir muita coisa" | Foto: Ana Clara Campos |
Antero Luiz: "culhões" em capa do Estadão | Foto: Ana Clara Campos |
No embalo do relato de Antero, a mediadora da mesa Ana Baum, professora do Departamento de Comunicação da UFF, lembrou do período em que trabalhava como estagiária na extinta rádio JB. “Pegava o primeiro o horário, às 5h. No dia seguinte ao atentado, lá estava eu no Hospital Souza Aguiar, entre um monte de cobra criada, tentando descobrir o que havia acontecido“.
Repórter do jornal O Globo, onde vem publicando, neste ano, uma série de matérias sobre os 50 anos do golpe (dentre as quais uma revelação sobre a morte do ex-deputado Rubens Paiva), Chico Otávio também presenciou in loco o atentado no Riocentro. “Era jovem, fui para curtir o show”, lembrou. Quando a bomba explodiu, desatou a correr com a multidão: “Lembro bem de ver o corpo do sargento estirado. Foi algo que me marcou: era um misto de cheiro de explosivo com o odor da carne humana”.
Em 1999, quando o caso foi reaberto, o jornalista arrematou um Prêmio Esso com reportagens investigativas sobre o ocorrido. Em uma das matérias compostas pela série, o general Newton Cruz confirmou que a intenção do ataque, planejado por militares radicais, era conter o processo de redemocratização. Desde então, Chico Otávio não para de fuçar as minúcias do caso – e revelar novos segredos.
Juliana Dal Piva: "importante pesquisar cada caso a fundo" | Foto: Ana Clara Campos |
“Foi um baita trabalho de convencimento fazer o Malhães (encontrado morto, recentemente) abrir a boca. Ele tinha orgulho do que fez. Acho que ele queria entrar na história”, arriscou Juliana, atualmente repórter do carioca O Dia. A jornalista frisou a importância de pesquisas prévias e detalhadas sobre o assunto antes de qualquer entrevista com gente envolvida nesse período histórico.
A mediadora Ana Baum, entre os palestrantes, dá depoimento pessoal sobre o caso Riocentro | Foto: Ana Clara Campos |
Se entre a papelada do Judiciário as investigações caminham a passos lentos, nas redações, o assunto não cessa de ganhar novos parágrafos. “Nos jornais, as pesquisas não morreram. A História nunca acaba em ponto final. Sempre temos mais a falar”, resumiu Chico.
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