domingo, 25 de maio de 2014

“A desinformação facilitou o golpe”, afirma Ildo Nascimento

A terceira mesa do Controversas contou com a presença do professor da UFF e  dos professores e jornalistas, Rosental Calmon Alves e João Batista de Abreu, que debateram sobre o jornalismo brasileiro durante a ditadura 

Por Thaís Cerqueira


Da esquerda para a direita, Dante Gastaldoni, João Batista,
Rosental Calmon Alves e Ildo Nascimento: jornalismo brasileiro
Foto: Ana Clara Campos

Ildo Nascimento deu início à fala com uma apresentação de slides, dando um contexto histórico sobre tipografia, linotipo e as antigas máquinas de composição de texto. Ainda na época do golpe de 1964, a estrutura necessária para se elaborar um jornal era bem mais complexa do que é atualmente, e por isso havia certo atraso na disseminação de informações. “A desinformação facilitou o golpe” disse o professor. O debate aconteceu na terceira mesa do Controversas, na UFF, em 19 de maio, com mediação de Dante Gastaldoni.

Ildo Nascimento apresentou série de slides sobre detalhes de
capas de jornais da época | Foto: Ana Clara Campos
Com diversas capas do jornal O Globo e do Jornal do Brasil, músicas, fotos e algumas animações que levaram o público presente aos risos, Ildo comentou detalhes da diagramação e a utilização de recursos gráficos da época.

O modo como Globo e o JB davam a mesma notícia eram bem diferentes. O Jornal do Brasil lançava mão de um projeto gráfico inteligente, utilizavam páginas temáticas, diagramação simples e funcional. Com essas estratégias, eles encontravam formas de protestar, driblar a censura e realçar o discurso contra a ditadura.

“Desde a faculdade meu sonho era trabalhar no JB”, lembrou Rosental Calmon Alves, no início de sua fala. Para ele, era admirável a forma como o jornal se posicionava, sempre testando os limites da censura. Alves trabalhou durante 23 anos no Jornal do Brasil, como repórter, redator, editor e diretor.
O jornalista lembrou que a censura no rádio e na televisão era ainda maior que no jornal impresso, pelo fato de esses meios dependerem de concessão governamental. Mesmo com a repressão muito dura, o JB passou muitas vezes pela censura. Os censores nem sempre notavam as mensagens de repúdio à ditadura incorporadas no diagrama do jornal.

"Nem todos resistiram", diz João Batista, sobre o problema
da autocensura de jornalistas | Foto: Ana Clara Campos
Como correspondente internacional, Rosental pôde ver como funcionava a censura em outros países governados por ditaduras, na América Latina. Ele trabalhou durante 11 anos em países como Argentina, Uruguai e Paraguai. Finalizando o discurso, lembrou que “o pior tipo de censura que vigorou no Brasil foi a autocensura”.

João Batista iniciou sua fala contando algumas de suas experiências pessoais e profissionais da época. O professor procurou, mostrar como era difícil exercer a profissão para os que queriam passar a verdade para a população. Pois, a maioria dos jornalistas tinha que publicar o que seus patrões queriam, com poucas exceções. Para ele, parte dos jornalistas tinha uma visão progressista: "Não dá para partir da ideia de que todos resistiram".

O professor lembrou que, em 1974, o governo proibiu a publicação de notícias sobre a crise de meningite que atingia todo território nacional. E que milhares de crianças poderiam ter sobrevivido ou não terem tido sequelas da doença, se o governo não tivesse sido irresponsável. “Quem acredita que vivemos uma ‘ditabranda’ omite esse e outros casos de falta de responsabilidade e civismo do governo da época”, finalizou.

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