A terceira mesa do Controversas contou com a presença do professor da UFF e dos professores e jornalistas, Rosental Calmon Alves e João Batista de Abreu, que debateram sobre o jornalismo brasileiro durante a ditadura
Por Thaís Cerqueira
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Da esquerda para a direita, Dante Gastaldoni, João Batista, Rosental Calmon Alves e Ildo Nascimento: jornalismo brasileiro Foto: Ana Clara Campos |
Ildo Nascimento deu início à fala com uma apresentação de slides, dando um contexto histórico sobre tipografia, linotipo e as antigas máquinas de composição de texto. Ainda na época do golpe de 1964, a estrutura necessária para se elaborar um jornal era bem mais complexa do que é atualmente, e por isso havia certo atraso na disseminação de informações. “A desinformação facilitou o golpe” disse o professor. O debate aconteceu na terceira mesa do Controversas, na UFF, em 19 de maio, com mediação de Dante Gastaldoni.
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Ildo Nascimento apresentou série de slides sobre detalhes de capas de jornais da época | Foto: Ana Clara Campos |
O modo como Globo e o JB davam a mesma notícia eram bem diferentes. O Jornal do Brasil lançava mão de um projeto gráfico inteligente, utilizavam páginas temáticas, diagramação simples e funcional. Com essas estratégias, eles encontravam formas de protestar, driblar a censura e realçar o discurso contra a ditadura.
“Desde a faculdade meu sonho era trabalhar no JB”, lembrou Rosental Calmon Alves, no início de sua fala. Para ele, era admirável a forma como o jornal se posicionava, sempre testando os limites da censura. Alves trabalhou durante 23 anos no Jornal do Brasil, como repórter, redator, editor e diretor.
O jornalista lembrou que a censura no rádio e na televisão era ainda maior que no jornal impresso, pelo fato de esses meios dependerem de concessão governamental. Mesmo com a repressão muito dura, o JB passou muitas vezes pela censura. Os censores nem sempre notavam as mensagens de repúdio à ditadura incorporadas no diagrama do jornal.
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"Nem todos resistiram", diz João Batista, sobre o problema da autocensura de jornalistas | Foto: Ana Clara Campos |
João Batista iniciou sua fala contando algumas de suas experiências pessoais e profissionais da época. O professor procurou, mostrar como era difícil exercer a profissão para os que queriam passar a verdade para a população. Pois, a maioria dos jornalistas tinha que publicar o que seus patrões queriam, com poucas exceções. Para ele, parte dos jornalistas tinha uma visão progressista: "Não dá para partir da ideia de que todos resistiram".
O professor lembrou que, em 1974, o governo proibiu a publicação de notícias sobre a crise de meningite que atingia todo território nacional. E que milhares de crianças poderiam ter sobrevivido ou não terem tido sequelas da doença, se o governo não tivesse sido irresponsável. “Quem acredita que vivemos uma ‘ditabranda’ omite esse e outros casos de falta de responsabilidade e civismo do governo da época”, finalizou.
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